Por Guga Chacra, no Estadão
Os cristãos são perseguidos no mundo árabe e há uma enorme gritaria
correta quando observamos o que grupos como ISIS (Grupo Estado Islâmico
ou Daesh) e a Frente Nusrah fazem com os seguidores desta religião. Mas
óbvio que poucos falam quem defende estes cristãos e o que se pode fazer
mais para ajudar.
O Líbano é a nação com a maior proporção de cristãos no Oriente
Médio. São 40% morando no país ou cerca de 60% se levarmos em conta os
libaneses morando na diáspora. Também é o país onde os cristãos melhor
vivem na região e o único que possui, por lei ou costume, calendário
cristão (fim de semana sábado e domingo e celebração do Natal), metade
do Parlamento cristão, metade do ministério cristão, presidente cristão e
chefe das Forças Armadas cristão.
Neste momento, o principal líder cristão do Líbano se chama Michel
Aoun. Não chega a ser novidade. Aoun ocupa este posto desde o fim dos
anos 1980, embora tenha passado 15 anos no exílio. A maior parte dos
parlamentares cristãos libaneses integram o partido de Aoun, conhecido
como Movimento Patriótico Livre.
Este grupo cristão de Aoun é aliado do Hezbollah e do Irã pois vê o
grupo xiita, o regime de Teerã e mesmo Bashar al Assad (de quem Aoun já
foi inimigo) como as únicas garantias neste momento de o Líbano não ser
sugado pelo ISIS ou pela Frente Nusrah (Al Qaeda na Síria). E Aoun
defende o fortalecimento dos cristãos no Líbano, uma nação circundada
por um inimigo (Israel) e uma guerra civil sanguinária (Síria).
Há mais de um ano, o Líbano está sem presidente. Existe um impasse
envolvendo Aoun e seu maior rival no campo cristão, o ex-líder miliciano
Samir Geagea, aliado dos sunitas. É urgente que os cristão libaneses se
unam neste momento para evitar o enfraquecimento ainda maior da força
dos cristãos no Líbano, o último oásis do cristianismo na região. Alguns
já dizem que talvez o Líbano não tenha mais um presidente cristão.
Os cristãos estavam bem no Iraque até a invasão dos EUA. Os cristãos
estavam bem na Síria até o início da guerra civil. Agora, sobraram
apenas os cristãos do Líbano entre as nações do mundo árabe. E os
cristãos são peça fundamental na identidade árabe e do Oriente Médio.
São a ponte de ligação entre o ocidente e o oriente.
Os EUA apoiam os lados que estão contra os cristãos árabes. E, pior,
os candidatos republicanos, embora retoricamente, defendam os cristãos,
também sempre ficam no lado oposto os cristãos do Oriente Médio. O mesmo
vale para grupos cristãos evangélicos nos EUA e mesmo no Brasil (mais
por desinformação do que por qualquer outro motivo) – o cristianismo
ortodoxo, porém, entende bem melhor o cenário na região. O Papa
Francisco também conhece melhor a situação e costuma acertar nas suas
análises.
Provavelmente, no Brasil, você tem um ou mais amigos de origem
libanesa. E quase certamente ele tem origem cristã. Os cristãos
libaneses, junto com os muçulmanos sunitas, xiitas, os drusos e, em um
passado, recente, os judeus faziam o Líbano uma das nações mais
cosmopolitas do mundo. Os libaneses se dão bem em todo o mundo, de São
Paulo a Montreal, de Paris a Lagos. Falta apenas se darem bem em
Beirute. O Líbano tem tudo para voltar a ser a Suíça do Oriente Médio, o
símbolo da prosperidade da sociedade mediterrânea e o grande bastião do
Ocidente no Oriente e do Oriente no Ocidente.
Guga Chacra, comentarista de
política internacional do Estadão e do programa Globo News Em Pauta em
Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade
Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no
Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da
Folha em Buenos Aires
em: http://internacional.estadao.com.br/blogs/gustavo-chacra/quer-saber-dos-cristaos-no-mundo-arabe-entao-leia-este-texto/