terça-feira, 31 de maio de 2016

Por que Maomé nunca se tornou um cristão

Por que, Maomé, que a princípio estava tão aberto às testemunhas do Antigo e Novo Testamentos, não se tornou um cristão? Uma razão já foi sugerida. Não havia Bíblia em árabe. Ele nunca teve a chance de conhecer as Escrituras do cânon em sua forma verdadeira e completamente aceita. Quaisquer que fossem os fragmentos que ele escutou sobre seu conteúdo foram insuficientemente persuasivos. É perfeitamente possível que por trás disso e relacionado a isso havia um elemento de insensibilidade cultural para com árabes por parte de cristãos da Pérsia. Por que missionários asiáticos traduziram as Escrituras para as línguas de culturas mais conhecidas como no siríaco e em parte para o chinês e não para o árabe? Eles não achavam que o árabe valeria o esforço? Por vezes, começaram a traduzir porções até mesmo para algumas línguas tribais da Ásia Central, mas não para o árabe. Se isso aludia a um preconceito cultural e racial, os árabes, que eram ardentemente orgulhosos de sua identidade, não puderam deixar de ressentir-se com isso.
Uma segunda razão pode ter sido o triste espetáculo da desunião cristã. À medida que ele se tornou ciente das amargas divisões no cristianismo do Oriente Médio – nestorianos, monofisistas e calcedônios, para não falar de cismas de seitas heréticas – Maomé pode ter concluído que sua busca pela unidade árabe e reforma religiosa jamais poderia ser alcançada dentro de uma estrutura cristã.
Uma terceira razão foi, provavelmente, os efeitos negativos das conexões políticas do cristianismo com os vizinhos imperialistas da Arábia. O império bizantino era ortodoxo calcedônio, a maior minoria religiosa da Pérsia era nestoriana e a Etiópia era monofisista. A Síria bizantina também tinha uma considerável população monofisista. “O Alcorão”, como W.M. Watt escreveu, “ofereceu aos árabes um monoteísmo comparável ao judaísmo e ao cristianismo sem seus vínculos políticos”.
Contudo, superando todas essas racionalizações e suposições das razões pelas quais Maomé não se tornou cristão, certamente estava a ardente certeza em sua alma de que o Único Deus Verdadeiro, “o Misericordioso, o Clemente”, o havia escolhido acima de todos os profetas e havia falado a ele diretamente, de uma maneira que nunca havia falado a qualquer homem antes ou depois. A força de Maomé não veio do contexto de suas reações a outras crenças, outros padrões sociais ou outros governos; seu poder estava na sinceridade transparente de suas próprias convicções religiosas. Ele era um profeta autenticado por si mesmo. Essa era sua força e para aqueles que não o seguiram, essa era a sua fraqueza.
Extraído do livro Descobrindo o mundo do Islã, páginas 68 e 69.
publicado no Mactub maio/junho 2016

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