By Martureo,
posted february 23,
2015, In Igreja, Movimento
Missionário Brasileiro.
Entrevista com Ramesh Richard
O fundador de um ministério global de proclamação,
que já treinou milhares de líderes eclesiásticos em mais de 100 países,
destacou a importância do fortalecimento dos líderes pastorais no Oriente Médio
como meio de ajudar pessoas em sofrimento, enfatizando que os ministérios
influenciam as congregações que, por sua vez, se tornam testemunhas para suas
comunidades.
Ramesh Richard, fundador e presidente da
RREACH (Ramesh Richard Evangelism and Church Health, um ministério que
promove o evangelismo e a saúde da igreja) disse ao Christian Post através de
uma entrevista por e-mail feita no dia 3/9/2014 que, no que se refere à fé
cristã, o Oriente Médio está mais perto de Jesus Cristo em termos raciais e
geográficos, mas muito mais longe dele em termos espirituais.
O teólogo-evangelista, que atua como professor de
Envolvimento Teológico Global e Ministérios Pastorais no Seminário Teológico de
Dallas, também atua como orador principal do Congresso de Proclamação Global
para Treinadores de Pastores, a ser realizado em Bangkok em junho de 2016.
Richard compartilhou suas ideias sobre diversos tópicos relacionados ao Oriente
Médio, destacando que, para os ocidentais, é difícil entender plenamente a
complexidade dos conflitos na região, citando cinco causas principais que as
igrejas evangélicas do ocidente precisam apoiar. Veja a seguir uma transcrição
editada da entrevista do Christian Post com Richard.
CP:
Qual é a sua experiência com a região do Oriente Médio? Que lugares você está
visitando neste momento e como descreveria a situação que está vendo?
Richard: Prefiro não citar os lugares pelos
quais tenho passado nesta viagem. É suficiente dizer que meus amigos e irmãos
estão em vários lados das divisas nacionais e sociais. Descreveria a situação
como intratável em escala social e nacional, mas muito promissora a partir de
uma leitura teológica da história, no passado, no presente e no futuro.
CP: O
que os cristãos ou as pessoas do ocidente, de modo geral, não compreendem sobre
o constante conflito do Oriente Médio?
Richard: Não creio que as “pessoas do
ocidente”, especialmente de culturas e países mais jovens, consigam de fato
entender a intensidade e a complexidade de longa data no conflito do Oriente
Médio. Além disso, cristãos mais bem informados percebem que um monoteísmo
transcendente por trás das convicções das partes dominantes nesses conflitos
não pode ser reconciliado a não ser que e até que haja reconhecimento de uma
chegada terrena e pessoal de Deus. Finalmente, a fé da Bíblia convida todas as
pessoas a darem boas-vindas ao Senhor Jesus como essa chegada pessoal de Deus —
em sua primeira vinda como Salvador humano e em sua derradeira volta como o
Juiz da humanidade, aquele que traz justiça imparcial para judeus e gentios na
região, de modo que qualquer um tenha os direitos da posse terrena e da bênção
que se estende para sempre.
No que se refere à percepção ocidental do conflito
como um todo, a reação das pessoas pode ser a desistência, o desinteresse ou
simplesmente o desejo de que haja uma solução rápida para o Oriente Médio. Isso
é parcialmente motivado por se tentar enxergar todos os problemas através de
uma abordagem de curto prazo.
CP:
Qual é o papel das igrejas ocidentais no que se refere a responder à crise do
Oriente Médio?
Richard: As igrejas evangélicas ocidentais têm
muito poucas possibilidades de ajudar de maneira substancial. O que de fato
vejo é uma rede de cinco partes nas quais elas devem funcionar. Permita-me
esboçá-la em termos daquilo a que somos favoráveis, em vez de por meio daquilo
que somos contrários, com um comentário um pouco mais detalhado no último
ponto.
1. Pró-Deus e,
portanto, a favor das prioridades, planos e propósitos dele para todo o
planeta, especialmente quanto à salvação da humanidade.
2. Pró-Messias, o
Senhor Jesus Cristo, por nosso derradeiro compromisso com ele, considerando
todas as outras identidades e comprometimentos como relativos, secundários e
penúltimos.
3. Pró-igreja ou
pró-cristãos, tendo como responsabilidade primária fazer o bem em seu sentido
mais pleno, especialmente para os “domésticos da fé”.
4. Pró-vida e contra a
desumanização, a brutalização e a marginalização de qualquer pessoa em qualquer
lugar; e para fazer o bem a todas as pessoas (Gl 6:10). Isso inclui defender
princípios de uma humanidade bíblica, fomentados pelo apoio a estruturas
sociopolíticas mais aptas a levar aos aspectos de vida, paz, dignidade,
piedade, liberdade, etc.
5. Pró-mundo no
presente, mas em favor do passado e do futuro de Israel e seus vizinhos.
Desejamos e trabalhamos em favor daquilo que há de melhor para o mundo neste
momento (incluindo todos as suas horríveis zonas de conflito) no nome e no
espírito de Cristo.
Sair no nome de Jesus e não em seu espírito (ou
vice-versa) é abusar do Evangelho. Toda a região do Oriente Próximo e do
Oriente Médio (ou seja, Israel e todos os seus vizinhos) vive em descrença,
sendo que, neste momento, seus habitantes são até mesmo anticristãos.
A partir da perspectiva do passado, concordamos com
o Senhor Jesus, que disse que “a salvação vem dos judeus” (Jo 4:22); com as
profecias do Antigo Testamento quanto a uma prioridade integrada e gloriosa
para a região (Is 19:18-25); e com o Novo Testamento, que reserva um futuro
terreno para Israel, a despeito de sua descrença atual (Rm 9—11). Por
conseguinte, não negamos nem diminuímos o futuro de Israel nem defendemos que
ele esse futuro tenha sido substituído ou cumprido pela Igreja agora. Ainda
assim, sua prioridade futura é apenas para o propósito original de ser um canal
de bênção global, a ser finalmente cumprido com a volta do Messias-Rei.
Nem mesmo Deus sanciona cegamente todas as ações
israelenses como permissíveis, especialmente se Israel não dispensar bênção
sobre seus vizinhos. A bênção de Deus não significa falta de responsabilidade moral
para com ele. Deus traz julgamento sobre Israel sempre que seus vizinhos
ameaçam sua existência, mas não o abandona ao futuro. Ou seja, a Bíblia é
pró-Israel (passado e futuro), mas não pró-israelense (no presente). Nós também
devemos sê-lo.
A Bíblia é a favor do mundo, da vida, de Cristo,
dos cristãos e da igreja. Nós também o seremos. A oração pela paz em Jerusalém
(Sl 122:6) pede primeiramente que todos os seus habitantes alcancem a retidão
com Deus ao crer no Messias-Jesus. Pede também que haja pela paz entre eles
mesmos, que é facilitada pela busca da justiça e da retidão.
CP: De
que maneira os cristãos ocidentais respondem ou alcançam os seguidores de
Cristo no Oriente Médio que estão sofrendo neste momento?
Richard: Na realidade, da mesma maneira que os
crentes e seguidores de Cristo alcançam os irmãos em qualquer lugar do mundo em
que enfrentam privação extrema, opressão social, desastres naturais e tudo o
mais. Fazemos todo o bem que podemos para atender às necessidades imediatas de
segurança e proteção. E, quando possível, o fazemos de maneira estruturada e
sistemática por meio de processos sociopolíticos.
Permita-me adicionar que uma das maneiras mais
eficientes de ajudar os que sofrem é fortalecer os líderes pastorais que estão
nesses locais, que estão ali há muito tempo, que são mais relevantes e
normalmente muito menos dispendiosos. Se pudermos fortalecê-los, seus
ministérios transbordam sobre suas congregações, as quais se tornam testemunhas
para suas comunidades. Um número imenso de histórias de refugiados dispersos
que experimentam o amor e a verdade de Cristo tem surgido por meio de líderes
pastorais que os servem através dos canais eclesiásticos.
CP:
De que maneira os líderes cristãos podem proclamar a mensagem divina de paz e
esperança numa região onde há tantas ideologias conflitantes, algumas das quais
são extremamente violentas e hostis em relação aos cristãos?
Richard: Nesta viagem, descobri uma
perspectiva ministerial magnânima de líderes locais, que é tanto estratégica
quanto sacrificial.
Alguém disse: “Estamos orando há muito tempo para
que esta região se torne receptiva ao Evangelho. Assim como Deus confundiu e
derrubou a hegemonia do comunismo, abrindo oportunidades sem precedentes para o
Evangelho, isso está acontecendo novamente em uma região que era vista como
impenetrável para o Evangelho”.
Um movimento firme e irreversível na direção do
Senhor Jesus — em vez de conversões ocasionais, relatadas de maneira quase
bizarra — se iniciou entre aqueles que pertencem às convicções majoritárias.
Outro líder fez uma observação em um comentário suplementar: “Nascemos aqui,
vivemos aqui e morreremos aqui. E se isso significar morrer para que o
Evangelho seja proclamado, vale a pena o sacrifício de nossas vidas”.
Ao que tudo indica, os líderes cristãos estão se
valendo da ansiedade e do sofrimento presente entre grande número de
participantes e de vítimas da visão de mundo dominante em favor do Evangelho
mediante grande sacrifício. Eles são os heróis da fé dos dias atuais.
CP:
Como você enxerga o futuro do cristianismo no Oriente Médio?
Richard: Obviamente temos interesse bíblico em
toda a região, simplesmente porque todos aqueles países do Oriente Próximo e do
Oriente Médio estão dentro do plano de Deus para o mundo — da aurora da
salvação até a consumação de seus planos. No que se refere à fé cristã, essa é
a região mais próxima do Senhor Jesus, em termos raciais e geográficos, mas
infelizmente a mais distante dele em termos espirituais. Em questões organizacionais
temos tido o privilégio de treinar pastores da região nas últimas duas décadas
a partir de nossa convicção de que a saúde pastoral afeta a saúde da igreja; e
a saúde da igreja afeta a saúde da sociedade. Mais recentemente, nós nos
envolvemos numa campanha de capital humano que vai durar uma década, cujo
propósito é conectar, unir e fortalecer 100 mil pastores, ministrando em 200
países, até o ano de 2020. Os países do Oriente Médio e região estão entre os
200 países mais fracos em termos econômicos.
Se Deus assim desejar, o Congresso de Proclamação
Global para Treinadores de Pastores reunirá treinadores pastorais de setores
tanto formais quanto informais da região. Gostaria que houvesse uma grande e
proporcional presença dessa região no evento, de modo que seja possível
conectar, unir e fortalecer todos eles para que sirvam em ambientes de
dificuldade extrema.
Existem cerca de quinze programas formais e dezenas
de iniciativas informais que podem ser auxiliadas imediatamente. Quis visitar a
região do Oriente Médio primeiro para mobilizar delegados para o Congresso, na
convicção de que, se pudermos ter uma boa representação desta localidade, a
mais difícil de todas, o restante do mundo será recrutado mais facilmente ao
seguir o exemplo do Oriente Médio de compromisso apesar de todos os fatores
contrários.
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