GUSTAVOCHACRA 07 Abril 2015 | 10:49
O Al Shabab é o único dos grupos terroristas que
dizem agir em nome do islamismo que mata apenas cristãos em seus recentes
atentados terroristas. Foi assim nos atentados no Quênia contra um shopping e,
na semana passada, contra uma universidade, matando 147 estudantes cristãos, em
um dos episódios mais grotescos e deprimentes do século 21.
O ISIS, também conhecido como Grupo Estado Islâmico
ou Daesh, tem como principais alvos muçulmanos, como os xiitas do Iraque,
sunitas ou alauítas pró-Assad na Síria e os curdos. Verdade, também leva
adiante um genocídio de cristãos assírios e de yazidis. Mas não mata
especificamente cristãos. A maior parte de suas vítimas é muçulmana.
O Boko Haram, na Nigéria, mata indiscriminadamente
cristãos e muçulmanos. A Al Qaeda, em seus atentados, matava quem estivesse no
alvo do atentado, independentemente da religião – dezenas de muçulmanos foram
mortos no 11 de Setembro, por exemplo.
O Al Shabab, no passado recente, também matava
muçulmanos. Na verdade, ainda mata. Mas na Somália, um país quase 100%
islâmico. Milhares foram mortos nas ações do grupo em cidades como Mogadishu.
Noto que os alvos são tanto os muçulmanos sufistas como os sunitas – o grupo
segue a vertente wahabbita do islamismo sunita, a mesma praticada pela Arábia Saudita.
Com a ofensiva da União Africana, apoiada pelos EUA, o Al Shabab se enfraqueceu
internamente na Somália. E o grupo, sem bases, sem portos e sem cidades
importantes, decidiu se focar no vizinho Quênia, que comanda as tropas de paz
no território somali. Buscando não alienar a população muçulmana queniana,
decidiu se focar nos cristãos quenianos em seus atentados, forçando as vítimas
a dizerem passagens do Alcorão – se não soubessem, eram mortas. Esta estratégia
não tem funcionado em atrair muçulmanos do Quênia, que não concordam com as
táticas grotescas e sanguinárias do Al Shabab e condenam esta organização
terrorista. Mas obteve sucesso em provocar divisões na sociedade queniana.
Atritos entre muçulmanos e cristãos podem aumentar. E alguns mais radicais
podem se associar ao grupo terrorista, hoje com entre 3 mil e 7 mil membros. Para
completar, o Al Shabab, com as derrotas, tem perdido membros que preferem lutar
ao lado do ISIS no Iraque e na Síria. Com os ataques, o grupo tenta passar uma
imagem de que segue forte, embora esteja enfraquecido. Este fenômeno de aumento
do terrorismo como tática de desespero tende a afetar também o ISIS, com as
recentes derrotas do grupo no Iraque – na Síria, o cenário é mais complexo.
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