gustavochacra
03 julho 2015 | 11:16
O ISIS, também conhecido como Grupo Estado Islâmico ou Daesh,
tem ameaçado entrar em Gaza para combater o Hamas, de quem é inimigo.
Não será uma tarefa fácil e, por enquanto, ainda é improvável. Mas há
uma possibilidade de aumento da instabilidade neste território
palestino, que ainda tenta se reconstruir da guerra no ano passado.O Hamas perdeu popularidade em Gaza. Não apenas pela guerra, mas também pela corrupção, por uma fraca e autoritária administração e por não ter conseguido nenhum resultado na luta para os palestinos terem um Estado ou pelo menos para o bloqueio de Israel ser encerrado. O Fatah, que governa a Autoridade Palestina na Cisjordânia, tampouco é popular em Gaza.
Isso não significa que o ISIS seja bem visto pelos palestinos. A maioria absoluta deles considera esta organização péssima. Eles veem o que ocorre na Síria e no Iraque e não querem o mesmo no território. Embora haja um crescente número de salafistas em Gaza, estes ainda são uma fração da população. O Hamas, embora religioso, segue uma vertente do Islã político sunita associado à Irmandade Muçulmana, não ao wahabismo do ISIS e da Al Qaeda.
Os palestinos avaliam que organizações como o ISIS e a Al Qaeda apenas prejudicam a imagem palestina. Primeiro, porque a causa palestina é nacionalista, não religiosa ou islâmica – cristãos e socialistas estiveram na vanguarda dos movimentos de independência palestinos nos anos 1950 e 60. Em segundo lugar, porque o ISIS e a Al Qaeda nunca tiveram como prioridade combater Israel. Ao contrário, até hoje os israelenses não foram alvos de nenhum ataque destas organizações, que tem como foco acima de tudo o Irã, o Iraque e o regime de Assad na Síria, além do Ocidente.
O problema maior, em Gaza, seria a influência de grupos jihadistas inspirados ou mesmo associados ao ISIS no Sinai (Egito). Este território, alvo de mais atentados nos últimos dias, está se convertendo em terra de ninguém. O regime de Sissi no Egito, principal aliado de Israel na região, não tem obtido sucesso no combate aos jihadistas e sua repressão tem radicalizado a oposição.
Israel tem apenas observado. Embora retoricamente tentará associar o Hamas ao ISIS, na prática sabe que o grupo palestino será importante conter o Grupo Estado Islâmico. Nos bastidores, atuarão ao lado do Hamas, com mediação do Egito e da Arábia Saudita. O novo comando do regime em Riad tem buscado atenuar os atritos entre o Cairo e o Hamas, indiretamente também reduzindo a tensão entre o grupo palestino e Israel, de quem os sauditas são aliados extra-oficialmente. Para completar, o Irã considera o ISIS o seu maior inimigo (mais do que Israel) e também agirá para evitar a entrada do grupo em Gaza.
Vamos observar o que pode acontecer. O ISIS, se conseguir algumas células em Gaza, talvez provoque Israel lançando foguetes para tentar causar uma reação israelense para bombardear o Hamas. Quanto maior o caos em Gaza, maior a possibilidade de crescimento do ISIS.
Guga Chacra, comentarista de política internacional do Estadão e do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia.
em: http://internacional.estadao.com.br/blogs/gustavo-chacra/israel-precisara-se-aliar-ao-hamas-em-gaza-para-combater-o-isis/
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