Você
nunca leu uma história como esta
Era uma reunião como
centenas de outras de que tínhamos participado durante vinte anos. Meu
irmão estava envolvido num debate amistoso com um outro árabe
cristão, num seminário sobre os melhores métodos de pregar
o Evangelho de Cristo aos muçulmanos. Os "pontos de discordância"
eram praticamente os mesmos de sempre. De fato, já tínhamos discutido
os mesmos assuntos em incontáveis reuniões e de várias
maneiras. Tudo estava dentro dos padrões normais, até que um inocente
estudante levantou-se para fazer a pergunta fatídica:
Como podemos proclamar fielmente
o Evangelho a Israel? Os judeus estão envolvidos numa guerra horrível
e pagando um preço tremendo. Como a experiência de ex-muçulmanos
os ajuda a falar de Cristo aos judeus?
Meu irmão sorriu
consigo mesmo. Embora ele soubesse a resposta, até aquele momento não
sabia qual era a posição de seu colega. Seu companheiro de debates
nesse fórum era um cristão evangélico muito culto que,
como nós, se convertera do islamismo. Ele já havia falado inúmeras
vezes a milhares de evangélicos americanos e era considerado um especialista
em evangelização do Oriente Médio. O homem se ajeitou na
cadeira, quase imperceptivelmente, e arrumou seus papéis, esperando que
Emir respondesse a pergunta. Mas meu irmão ficou quieto e deixou que
o silêncio pesado forçasse o outro a responder.
Lentamente, sem levantar
os olhos, ele disse: "Bem, com relação à evangelização
dos judeus, devemos sempre apresentar Jesus como o Messias. Isto é ponto
pacífico. Entretanto... no que se refere ao conflito entre palestinos
e israelenses... acho que devemos permanecer... neutros".
Bem-vindo ao nosso mundo!
"Abrindo o
jogo"
Esta história poderá
ser um choque ou uma surpresa para os leitores. Em todo caso, decidi contá-la,
e "seja o que Deus quiser". Levei vinte anos para escrever este artigo.
Estou prestes a trair meus irmãos segundo a carne. Estou prestes a revelar
nosso terrível segredinho.
A maioria dos artigos e
livros que escrevi em parceria com meu irmão foram trabalhos acadêmicos
ou obras que falavam sobre como entender e alcançar os muçulmanos.
Em 2002, quando nosso livro Unveiling Islam (O
Islã Sem Véu) tornou-se um best-seller, ficamos
sob os holofotes da mídia. Nossos debates, sermões e palestras
passaram a ser assistidos por milhares de pessoas. Por duas vezes falamos aos
milhares de pastores presentes à reunião anual da Convenção
Batista do Sul dos EUA. Aparecemos em incontáveis programas de televisão,
entrevistas e programas de rádio transmitidos em todo o país.
Em 2003, O
Islã Sem Véu conquistou o Gold Medallion, prêmio
concedido anualmente às melhores publicações cristãs
dos Estados Unidos. Além disso, nossos livros More Than a Prophet
(Mais Que Um Profeta) e Voices Behind the Veil (Vozes Detrás do
Véu) – ainda não publicados no Brasil – também
foram sucessos de venda e concorreram a vários prêmios. Atualmente,
estamos escrevendo nosso maior livro, um manual de referência de um milhão
de palavras que será o primeiro comentário cristão abrangendo
todos os versos do Corão. Nosso editor vendeu todas as cópias
de nosso último livro, Christian Jihad (Jihad Cristã),
numa só conferência, em meados de 2004. Isso basta para mostrar
quanto gostamos de escrever.
Porém, esses livros
foram fáceis de escrever, se comparados com este artigo. O que escrevi
aqui é algo extremamente pessoal e pensei e orei a respeito durante semanas.
Entretanto, por mais difícil
que fosse, senti que, finalmente, deveria contar a história. Porém,
isso significava que meu irmão e eu, ambos professores em universidades
cristãs, seríamos objeto de escárnio. Na verdade, já
estamos acostumados com o desprezo dos muçulmanos. Eles vivem atrás
de nós e nos ameaçam toda semana por e-mail, por carta ou pessoalmente.
Eles protestam quando aparecemos em programas de TV e fazem escândalos
nas igrejas onde pregamos.
Mas esse escárnio
seria de um tipo completamente diferente. Ele viria de nossos próprios
irmãos cristãos. Seríamos desprezados porque revelamos
o segredo daqueles que, como nós, são crentes [em Cristo] de origem
muçulmana.
Finalmente, decidi "me
expor" na revista Israel My Glory. Conhecendo os editores como conheço,
eu sabia que eles ficariam ao nosso lado. Pelo menos, Emir e eu não estaríamos
sozinhos.
Um ódio residual
Como muçulmanos,
fomos ensinados a odiar os judeus. Como
cristãos convertidos do islamismo, muitos de nós ainda os odiamos.
Leia de novo essas palavras,
com atenção. Deixe seu significado e importância penetrar
na sua mente. Com certeza, você já conheceu centenas de pessoas
como nós durante sua vida. Os ex-muçulmanos saíram do segundo
plano e subiram ao palco central de muitas conferências e reuniões
denominacionais [nos EUA]. Embora todos nós sejamos questionados sobre
assuntos ligados à apresentação do Evangelho aos muçulmanos,
raramente nos perguntam a respeito de Israel, da nação judaica
e das alianças entre Deus e Seu povo, narradas nas Escrituras.
Muitos de nós, cujos
nomes você conhece e cujos livros já leu, ficam agradecidos porque
ninguém os questiona sobre isso. Por quê? Porque muitos ex-muçulmanos
que hoje são cristãos ainda sentem desdém, desprezo e ódio
pelos judeus. Entre estes, estão muitos que falam em conferências,
escrevem livros e pregam nas igrejas. Realmente, este é o nosso segredinho
terrível.
Emir e eu chamamos isso
de vestígios do islamismo. Quando éramos crianças, aprendemos
nas madrassas (escolas religiosas islâmicas) que os judeus bebiam
o sangue das crianças palestinas. As mensagens pregadas pelos imãs
destilavam ódio aos judeus e à nação judaica. Para
nós, eles eram os "porcos" e "cães" que tinham
roubado nossa terra e massacrado nosso povo.
Então, quando um
muçulmano se converte e abandona o islamismo, convencido de que Isa
(Jesus) não era um profeta de Alá, mas sim o próprio Messias,
ele se defronta com a mesma ameaça que nos atinge a todos. Muitos de
nós fomos repudiados, expulsos de casa, deportados, presos, ou sofremos
algo pior. Os que sobrevivem, começam vida nova separados da tradição
de seus ancestrais e de sua família. Não resta quase nada de nossa
vida antiga – exceto uma tendenciosidade que teima em não ir embora.
Nós ainda odiamos os judeus. Tenho que confessar uma coisa: isso também
aconteceu com meus irmãos e comigo.
No início da década
de oitenta, após nossa conversão, meus irmãos e eu começamos
uma nova vida em Jesus Cristo. Em muitos aspectos, a igreja tornou-se nossa
família, já que nosso pai nos renegou. Eu estava ávido
por conhecer nosso Senhor e a Sua Palavra, e lia a Bíblia apaixonadamente,
às vezes durante três ou quatro horas por dia. Eu gastava muitas
canetas marcadoras de texto à medida que ia estudando o Antigo Testamento.
Quando cheguei à
aliança abraâmica, em Gênesis 12, tropecei. "Antigo
Testamento" – resmunguei – "Jesus acabou com isso". Em pouco
tempo, comecei a ficar aborrecido com a constante repetição do
refrão: Abraão... Isaque... Jacó... José. Eu tinha
sido ensinado a acreditar no que Maomé tinha escrito: Abraão...
Ismael... Jesus... Maomé.
No Corão está
escrito que Ismael, e não Isaque, foi levado para ser sacrificado no
Monte. Essa é a doutrina central de nossas celebrações
(Eid). Agora, eu estava sendo confrontado com o fato de que, 2200 anos
depois de Moisés ter escrito Gênesis 22 e quase 2700 anos depois
do evento ter ocorrido, Maomé mudou a história.
Rapidamente, pulei para
o Novo Testamento. Eu tinha certeza de que iria descobrir que Jesus, meu Salvador,
havia repudiado o Antigo Testamento e que meu preconceito poderia permanecer
intocado.
Foi aí que cheguei
a Romanos 9-11. "E o prêmio vai para"... os judeus, como a nação
sacerdotal de Deus. Eu comecei a fazer perguntas. Comecei a ler livros. Cheguei
até a assistir cultos de judeus messiânicos.
Então, lentamente...
muito lentamente... comecei a amar os judeus com o mesmo amor que nosso Pai
celestial tem por eles. Eles são os escolhidos de Deus – e a terra de
Israel lhes pertence.
Levou algum tempo até
que isso acontecesse comigo e com meus irmãos, e nós achávamos
que todos os ex-muçulmanos passavam pela mesma experiência e chegavam
à mesma conclusão que nós. Aparentemente, estávamos
errados.
O mito da substituição
Pouco depois que apareci
no programa de TV de Zola Levitt pela primeira vez, recebi uma enxurrada de
e-mails de muçulmanos furiosos. Eu já esperava por isso. O que
eu não esperava era um número tão grande de e-mails indignados
vindos de cristãos anglo-saxões. "Meu caro irmão em
Cristo" – escreviam eles – "a Igreja substituiu Israel!".
Um dia, depois de uma reunião,
um ex-muçulmano, que na época pastoreava uma comunidade cristã
egípcia, me chamou num canto e disse: "Você está prejudicando
seu testemunho, meu amigo". Sua repreensão não muito amigável
continuou: "As alianças de Deus com Israel através de Abraão,
Davi e Ezequiel eram condicionais. Ele veio para os Seus, mas eles O rejeitaram.
A Igreja agora é o novo Israel".
Depois disso, ele me indicou
vários livros evangélicos para provar seu argumento. Comecei a
ler esses estudos teológicos e sei que você, caro leitor, tem muitos
deles em sua estante. Seus autores são protestantes reformados, escritores
evangélicos e até pregadores muito conhecidos no rádio
e na televisão. Todos eles diziam a mesma coisa: Israel foi substituído
pela Igreja.
Bem, agora, vinte anos depois,
permitam-me ser enfático, para que não haja nenhum mal-entendido:
A aliança de Deus
com Israel foi incondicional. Israel continua sendo a nação escolhida
por Deus.
Embora os judeus sejam,
em termos bíblicos, um povo "teimoso" e de "dura cerviz",
Deus não os abandonou. Qualquer outro ensino é anti-bíblico,
ímpio, racista e anti-semita. Não me importa o quanto esses autores
sejam respeitados nem o que isso vai me custar, em termos de amizades. Eu não
posso abandonar o povo de Deus nem mudar o plano divino. Romanos 9 a 11 ainda
fazem parte da Bíblia.
O mito da Palestina
Atualmente, os conflitos
sobre a posse de Jerusalém estão todos os dias no noticiário.
Diariamente, vemos bombas e balas voando para todos os lados, enquanto ressoa
uma luta que já dura cinqüenta anos. E eu pergunto: "Onde está
a voz dos cristãos?" Infelizmente, muitos estão emudecidos
pelo resíduo do ódio a Israel que trazem em seu coração.
Já perdi a conta
de quantas vezes Emir e eu pedimos que outros ex-muçulmanos nos mostrassem
onde fica a "Palestina" no mapa. Perguntamos também quando
foi que os palestinos tiveram um governo estabelecido, uma capital, uma embaixada?
É claro que a resposta
é "nunca". O conceito de um país chamado "Palestina"
só surgiu depois que Israel se tornou uma nação. Trata-se
de um país inteiramente hipotético, baseado não numa origem
étnica comum, mas sim num ódio comum a Israel. Conforme ilustrei
no início deste artigo, nossos colegas árabes e persas têm
encontrado companheiros entre os teólogos ocidentais que adotaram todo
um esquema teológico e escatológico baseado nesse ódio
comum. Meu irmão e eu estamos agora na irônica posição
de sermos ex-muçulmanos e turcos persas defendendo Israel contra cristãos
anglo-saxões e europeus de raça branca. Que mundo estranho!
Concordo com o ex-primeiro-ministro
israelense Benjamin Netanyahu: "Jerusalém é a eterna e indivisível
Cidade de Deus". Esperamos, um dia, encontrá-lo e dizer-lhe isso.
O mito de Alá
Outro componente estranho
dessa questão é o uso da palavra "Alá". Recentemente,
ouvimos um missionário evangélico falar sobre o movimento "Alá-leuia",
em que os missionários estão usando a palavra árabe "Alá"
para proclamar o Evangelho. Alguns chegam ao cúmulo de entrar nas mesquitas
e ficar na posição de oração (rakat), mas
orando a Jesus em pensamento. Alá, concluem eles, é só
o nome árabe de Deus. Adonai e Alá seriam o mesmo Deus.
Mesmo correndo o risco de
ofender mais alguns leitores, quero deixar uma coisa registrada: Alá
não é o nome árabe de "Deus". Alá
é um ídolo.
Em todos os debates de que
participamos em universidades e entre colegas, meu irmão e eu nunca encontramos
um ulema muçulmano que acredite que o Alá do Corão
e o Deus da Bíblia sejam o mesmo Deus. Nunca. Se o monoteísmo
é o único critério para distinguir a verdade neste caso,
então deixe-me dizer uma coisa: se Alá é o mesmo deus que
o Deus vivo, então Elias deve desculpas aos profetas de Baal (que também
eram monoteístas).
Então, por que usar
essa palavra? Perguntei a um árabe cristão por que ele continuava
usando o termo "Alá" quando orava, e ele me respondeu baixinho:
"Eu não consigo me convencer a usar os nomes hebraicos, sabe?"
Sim. Eu sei. Infelizmente,
eu sei.
Estou ciente das implicações
deste artigo. Eu as aceito. Numa única crítica dura, de poucas
páginas, ataquei a teologia da substituição, a escatologia
puritana, os teólogos modernos e denominações inteiras.
Entretanto, meus vinte anos de silêncio acabaram. Nosso segredinho terrível
foi revelado.
Emir e eu continuaremos
do lado de Israel no conflito contra nossos parentes segundo a carne. Continuaremos
contestando a teologia da substituição sempre que necessário.
Também continuaremos
a defender Israel como nação escolhida por Deus, porque Ele nos
manda fazer isso no Antigo e no Novo Testamento. Os judeus precisam aceitar
Jesus como o Messias, isto é certo. Mas eles também precisam que
a comunidade cristã – a Igreja – fique ao lado deles num
mundo que quer a sua destruição. Isso começa agora.
(Israel
My Glory - Ergun Caner - http://www.beth-shalom.com.br)
O Dr. Ergun
Mehmet Caner é professor de Teologia e História da Igreja
na Liberty University, em Lynchburg, Virginia (EUA). O livro O
islã sem véu, escrito em co-autoria com seu irmão,
Dr. Emir Fethi Caner, pode ser pedido em nossa livraria virtual.
Ergun Caner (em: http://www.beth-shalom.tv.br/artigos/doloroso.html)
Nenhum comentário:
Postar um comentário